sexta-feira, 29 de julho de 2011

Procão

Há 20 anos Alfredo Carlos Soares da Silva [40], mais conhecido pelo nick name “Peninha”,  paisagista  concursado da Secretaria de Meio Ambiente faz algo muito nobre na vida profissional: pinta personagens infantis em muros das Escolas da Prefeitura de Guarulhos.
“Um desenho já é algo muito bonito, mas quando coloco as cores fica maravilhoso. É mágico. É igual os animais, eles enfeitam o mundo. São seres vivos e precisam do nosso carinho”, diz Peninha que já fez mais de 900 desses desenhos.
Peninha mora com a esposa, dois cunhados e o filho Rafael Soares da Silva [15] numa chácara tranqüila de cerca de 2 mil m² na região do Jardim Bondança [Guarulhos/SP]. O apelido data do início da carreira na prefeitura, quando começou a assinar os desenhos com uma pena. Daí para ‘Peninha’ foi um susto.
Peninha afirma que além da paixão pelos animais, gosta de cuidar de plantas, como hortaliças e samambaias. “Há um tempo encontrei uma plantinha que eu queria muito num lugar meio improvável: o Cemitério da Liberdade. Fui num velório lá e consegui”, disse.
Para Peninha, não é possível respeitar o ser humano sem respeitar os animais. Daí a importância de criar o filho na zona rural, próximo aos bichos e às plantas. “Criança que gosta de cachorro nunca vai colocar fogo numa pessoa. Quem respeita os animais, respeita a natureza. Deus fez o cachorro e o gato para enfeitar o mundo”, afirma.
Ainda que com muito trabalho na Prefeitura, Peninha percebeu que não podia passar incólume pelos animais maltratados e maltrapilhos da periferia da cidade. Ele chegou à conclusão que não poderia ser feliz se não ajudasse os cachorros abandonados, alguns deles atropelados ou sofrendo por graves doenças.
Peninha instalou uma pequena carroceria na sua bike e adquiriu medicamentos básicos para sarna, verme, pulga e carrapato, por exemplo. A partir de então, indo ou voltando do trabalho, caso encontre um animal precisando de ajuda, ele para e presta socorro.
Em uma ocasião Peninha voltava do trabalho com os colegas numa viatura, quando avistou um cachorro em apuros. Neste dia ele estava sem sua inseparável bicicleta e também não podia colocar o animal no carro oficial. Ainda que distante de casa, Peninha não pensou duas vezes: resgatou o animal e com ele no colo cruzou a cidade até sua residência, onde o bicho foi enfim medicado.
Em junho deste ano Peninha sofreu um infarto, do qual ainda se recupera. O carinho para com os bichos, entretanto, não foi interrompido. Ele conta com ajuda de algumas criaturas do bem, como a funcionária pública Karina Palumbo Nogueira [29] e o próprio filho Rafael.
“Muitos dos meus amigos têm problemas com os filhos e eu não tenho. O Rafael tem responsabilidade, ele faz questão de preparar a comida dos bichos. Quando chega um animal machucado ele acompanha o seu restabelecimento. São pequenos gestos que têm feito ele crescer como ser humano”, diz sobre o filho.
Atualmente Peninha cuida de 29 animais adultos e cerca de 10 filhotes. Ele se orgulha de saber a história de cada um. Mal ou bem, todos têm suas casinhas próprias. A cada dia são consumidos na chácara cerca de 15kg de alimentos, entre ração, arroz e fígado. Tudo é minuciosamente preparado num fogão a lenha. Antes de ser servido, o alimento recebe um toque final na carriola que cuidadosamente leva os alimentos até as casinhas.
Os animais, que ficam presos durante o dia, são soltos a noite. A chácara é cercada, mas sabe como é. Há pouco Peninha precisou indenizar dois vizinhos: um pelo sumiço de 15 patos e outro por 20 galos. “São os ‘ossos’ do ofício”, diz.
Peninha se orgulha de ter apenas cachorro vira lata na chácara. Para Peninha o vira lata é sinônimo de cachorro. “Os outros são exóticos, vivem cercados nas casas. O vira lata está nas praças, nas ruas, todo mundo conhece. São eles, que podem até passar doenças para crianças, que precisam da nossa ajuda”, diz.
Para adotar um dos bichos que vivem na chácara do Peninha, é só fazer contato com ele. Todos estão vacinados e todas as fêmeas foram castradas.